domingo, março 11, 2007

Artifícios


Tentou primeiro subornar meu querer com seu olhar de afeto
Depois inundou meu ser de suas mentiras bonitas...
Assim me seduzia. Fazia o que gosto, riscava o que detesto
Mas no fim só me dava a secura de sua persona talhada em mão hábil
Escondendo-me o que está debaixo dessa sua sedenta pele débil

Talvez até gostasse do que há nessas suas vísceras, no profundo
Já que sua talhada de pau-oco me serve só para enfeite, não me completa
Mas falar-te de coração é como dizer um adeus para um ateu...
Então lhe dou um adeus mais sincero que qualquer coisa que já viera da sua boca
Teu amar é tão quente e previsível quanto um filme barato e mal acompanhado
Onde a melhor parte é o intervalo da sua vida, mas ele nunca chega...

Meu artesão de falsidades, faça sua própria cova e lápide com alguns artifícios vazios
Se torne um Narciso de sua talhada e elaborada imagem na busca do impecável
Mas eu? Ah, se só isso me bastasse, mas sempre preciso de algo mais
Eu quero alguém com distorções, manco e infame, mas franco e (talvez) mais nada!

Acho que você não percebeu, o meu riso ali era honesto (e não era para você)...
Eu estava livre do seu "te quero", leve e letal como uma granada...
E acho às vezes que o seu ser sincero é ser falso, talvez... Ou talvez eu que não seja burra,
Sou um pluriverso dinâmico e cafona e você é estatueta numa prateleira moderninha

Você ainda me pergunta se eu tenho certeza do que decidi. Mas o que importa essa certeza?
Até os loucos têm certezas de estimação cravadas em seus hospícios
O Certo não é a questão, a questão é cardíaca e por isso ausente de certeza...
E para você? No final e na melhor das hipóteses, conseguirá a proeza de realmente
Convencer o mundo que sua talhada persona pode ter vísceras vivas!
Ah, mas só se for de vermes da madeira, exatamente aquilo que te consome...


Augusto Sapienza (índice de posts de Augusto)

2 comentários:

Anônimo disse...

Que poema denso, mas muito bom de se ler...
Bjs, Vanessa

Anônimo disse...

Eu mesma me pergunto se tenho certezas, sou impune a mim mesma, ou eu me prendo em minhas próprias armadilhas?