domingo, janeiro 21, 2007

A Sala


A mulher, ou talvez ainda menina, agora é frágil
Está no meio de sua sala construída a mão medrosa
Encontra-se num sofá que conforta-se nela, adormece dela mesma...
Seus pés teimam em fugir do taco frio como quem corre do calor já distante!

Usa alguns comprimidos, talvez pela semelhança, está comprimida...
Cataliza-se na cadeia das horas, na (de)cadência do ponteiro
E atônica observa o vaso e sua flor vermelha-morta sobre a mesa
Está a chorar, chora cada um dessas três letras - não - que não cabem ao coração
Pois as outras três - sim - não existiram para lhe entregar a felicidade

Então ela insiste em cerrar todas as janelas para o horizonte
Esquecendo que a porta nunca lhe será segura,
Pois o acaso é abusado, tem a chave!
E quando ela percebe, alguém invadiu, se instaurou!
E grita, tem medo, mas a força que tem o seu grito de expulsar
Vem da vontade que essa pessoa fique alí, ao seu lado!

Como é cômica natureza da sala, ela mudou de propósito,
Antes era para ninguém entrar
Agora é para uma pessoa, apenas uma, não sair...
Mas como tudo na vida, inclusive ela mesma, termina,
Logo a pessoa se vai pela mesma porta que entrou!
E suas lágrimas se juntam na sua aceitação do fim

Assim a sala foi destruída e, a não mais menina, a mulher se foi...
Agora anda por aí, pelas ruelas das dúvidas, pelas anti-vias da vida
Entende que a sala não lhe protegia, não lhe serve,
Não prendia ninguém a ela, só ela mesma...
E quando dois destinos quiserem se cruzar
Dão-se as mãos e andam no mesmo sentido
E quando for o dia, largam-se, bifurcam-se por aí...

E no fim ela saiu da sua sala de estar
Para o grande quarto da vida, de viver

Augusto Sapienza (índice de posts de Augusto)

2 comentários:

Marcos Côrtes disse...

Uma sexualidade fêmea. Até certo ponto, não feminina.
Segundo a psicanálise lacaniana, a "mulher não existe". Até hoje tento decifrar essa frase...

Adorei seu texto, o que uma mulher esconde em seu quarto, além dela mesma? Você deu um ótimo tom, nem delicada, nem grosseira. Quase "meta-descritiva". Rs****

Mas isso será melhor analisado por elas... Para nós apenas resta poetizar o que para elas é a doce rotina de "ser mulher", sem explicação.

; )

Anônimo disse...

Me senti um pouco na minha sala e um pouco no quarto da vida... Mas como é uma relação ao estado de espírito...
Adorei, Bjs